Se aposentou e continuou trabalhando? Veja se vale a pena rever benefício
Segundo
especialistas, quem deseja entrar com algum tipo de processo para rever o valor do
benefício, deve, antes de tudo, consultar um advogado.
Antonia
Dias atingiu as condições para pleitear a aposentadoria, por tempo de contribuição, no ano de 2003. Na época, a
auxiliar de enfermagem, residente em Bauru, no interior de São Paulo, ficou na
dúvida se aguardava mais alguns anos para requerer o benefício, ou se optava
pela aposentadoria naquele momento, ainda que tivesse que continuar trabalhando
para complementar a renda. Preferiu a segunda alternativa e, desde então, tem a
sensação de estar sendo lesada, visto que contribui para o INSS (Instituto
Nacional do Seguro Social), sabendo que não terá retorno das contribuições.
Assim
como Antonia, segundo dados do IBDP (Instituto Brasileiro de Direito
Previdenciário), existem no Brasil cerca de 500 mil pessoas que continuam a trabalhar após a aposentadoria; e 60% delas contribuem para a
previdência social. Entretanto, ao contrário do que muitos acreditam, a revisão
do benefício, chamada de desaposentação, não é positiva para todos.
“As
pessoas acreditam que o fato de continuarem a contribuir para o INSS fará com
que, alguns anos depois, tenham direito a um benefício maior (…) Porém,
isso nem sempre acontece, já que alguns dos aposentados que continuam no
mercado de trabalho e pagam a previdência, voltam a contribuir sobre um
salário menor, um salário mínimo, por exemplo”, explica a vice-presidente do
Instituto, Adriana Bramante.
Duas
correntes
O
consultor previdenciário e membro da Comissão de Direito Previdenciário do IASP
(Instituto dos Advogados de São Paulo), IvandickRodrigues,
alerta ainda para o fato de existirem duas correntes sobre o assunto no
Judiciário.
A
primeira,
considera que o segurado está pedindo uma revisão
do benefício, o que acontecerá a partir do julgamento da ação, em relação aos
benefícios a serem recebidos a partir de então. A segunda, por outro lado,
entende que o segurado está renunciando à aposentadoria que recebeu até o
momento e pleiteando uma nova, o que
faria com que o aposentado tivesse que devolver tudo o que foi recebido até então.
“A
pessoa tem que saber que há a possibilidade de ter que devolver tudo”, ressalta
Rodrigues.
Passo
a passo
No
geral, orientam os especialistas, quem deseja entrar com algum tipo de processo
para rever o valor do benefício, pelo fato de ter continuado a trabalhar e
contribuir para o INSS após se aposentar, deve, antes de tudo, consultar um
advogado para verificar qual seria o valor da nova aposentadoria.
Para
isso, são necessários a carta de concessão da aposentadoria,
o CNIS (Cadastro Nacional de Informações Sociais), que vai conter informações
de vínculo e remuneração do segurado, além de todos os documentos, como os
holerites, que comprovem que o aposentado continua trabalhando e contribuindo
para a previdência.
A
partir daí, o advogado entrará com um pedido administrativo no INSS, porém,
adverte Rodrigues, o Instituto vem desconsiderando as solicitações, já que
entende como uma renúncia de algo (a aposentadoria) que não pode ser
renunciado.
Passado
o pedido administrativo, chega-se à esfera judicial, cuja análise, segundo
Adriana, pode durar de quatro a cinco anos.
Luz
no fim do túnel
De
acordo com o escritório G Carvalho Sociedade de Advogados, é possível que a
polêmica sobre a desaposentação esteja chegando ao fim. De acordo com o escritório,
o STJ (Supremo Tribunal de Justiça) deve julgar ação, que repercutirá em todos
os julgamentos posteriores sobre o assunto, no próximo mês.
O escritório informa ainda que a troca de benefício
por outro de maior valor, no caso de quem se aposentou pelo INSS, mas continuou
trabalhando, sem a devolução dos valores já recebidos pelo segurado a título de
aposentadoria, já estaria sendo considerado como justa até mesmo pelo Governo,
visto que, pela primeira vez, foi divulgado o impacto fiscal que o Tesouro terá
de suportar, caso o direito à desaposentaçãoseja reconhecido. Requerido hoje por milhares de ações em tramitação
nos tribunais brasileiros, informa o escritório, este levantamento mostra que o
impacto deverá ser na ordem de R$ 49,1 bilhões.
Ainda
segundo o escritório, a
Comissão de Seguridade Social e Família, da Câmara dos Deputados, aprovou, no último mês de junho, o projeto 2.886, que
determina mudanças para o aposentado que continuar trabalhando. Na hipótese da
medida entrar em vigor, o segurado receberá de volta o valor integral da
contribuição após parar de trabalhar.
O
projeto está sendo analisado em caráter conclusivo e ainda deve seguir por mais
duas comissões: a de Constituição e Justiça e a de Finanças. Após este
processo, ele será encaminhado ao Senado.
“A
Previdência acaba recebendo de quem ainda não se aposentou e de vários
segurados que continuam a trabalhar mesmo em idade avançada. Porém, não é
admissível o aposentado ser prejudicado com os baixos valores que recebe e
ainda pagar uma contribuição sem razão”, defende o advogado previdenciário, do
escritório G Carvalho Sociedade de Advogados, Guilherme de Carvalho.
Fonte: Infomoney – 06/08/2012
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